A boa economia japonesa
TokyoAlguém já imaginou a seguinte manchete de jornal: “Japão volta a ter inflação e comemora”? Pois bem, essa manchete saiu no final do ano; os preços ao consumidor aumentaram em novembro pela primeira vez em dois anos, e pela segunda vez em sete anos. Explicando: aumento de preços significa inflação. Agora, é só no Japão que um aumento de preços é uma boa notícia, pois o Banco do Japão, ao combater a deflação, mantendo a taxa básica de juros a quase zero, contrai a expansão da economia.De acordo com as agências de notícias, os preços não têm acompanhado o ritmo da economia. O PIB deve se expandir pelo quinto ano, embora a média anual seja de 1,2%, e o país esteja prestes a superar a deflação, cuja expectativa é de que isso aconteça no primeiro trimestre de 2006. Apesar dessas boas expectativas, o Banco do Japão ainda está cauteloso e só deve promover alguma ação de aumentar os juros, caso a recuperação se mostre sustentável.O bom é que há sinais de recuperação econômica sustentável, e os investidores estão otimistas. Os empregos estão melhorando e os salários também. Os lucros das empresas já estão em um patamar há muito não experimentados. Até os preços dos imóveis estão subindo, coisa que não se via há décadas. Claro que não chega a se igualar à economia chinesa, mas essa recuperação é muito alentadora.A recuperação acontece depois de um processo longo e sofrido. Pessoas com mais idade ainda custam a acreditar. Mas as notícias são de que a recuperação está se espalhando por todos os setores da economia. Depois de muito tempo lutando contra a capacidade industrial ociosa, custos crescentes e dívidas, as empresas parecem ter aprendido a enxugar e a se tornar mais competitivas. Agora, elas estão tirando vantagem do bom momento pelo qual passa a economia como um todo.Outro motivo de regozijo é que, ao recuperar-se, o Japão pode ajudar toda a economia mundial, pois é um país que compra muita matéria-prima e investe no exterior. Outra coisa é que a força da economia japonesa é um contraponto às duas economias opostas: a estadunidense e a chinesa. Enquanto especialistas tentam explicar o fenômeno japonês, estudos mostram que foi mesmo um conjunto de motivos que levaram a essa recuperação.Entre os motivos que os analistas internacionais destacam como condutores da recuperação, estão a remoção de normas e regulamentos que entravavam as empresas e a revolução nos costumes empresariais, com o abandono dos valores tradicionais como o emprego vitalício. Outro motivo é o investimento em pesquisa para se fabricar produtos com preços mais competitivos. Da mesma forma, o Japão foi o país industrial que mais gastou em pesquisa e desenvolvimento.Porém, a recuperação da economia ainda não é unanimidade entre os analistas. Alguns lembram que o Japão tem a maior dívida pública do mundo e um sistema previdenciário difícil de administrar. Além disso, os consumidores têm a propensão de economizar ao invés de gastar, pois, ao contrário dos estadunidenses, a população japonesa está envelhecida.É consenso que uma expansão prolongada da economia deve elevar a receita fiscal, permitindo ao governo equilibrar o orçamento sem necessidade de sair à procura de empréstimos no mercado. Ademais, a decisão do governo de reduzir os gastos ao menor nível nos últimos oito anos pode conter a expansão da dívida pública.Todas essas são boas notícias para todos. No entanto, uma notícia não é favorável ao Brasil: com o corte em todos os setores da economia, o governo pretende também cortar 2,5% da ajuda oferecida a países em desenvolvimento.Para um orçamento tão grande, esse corte representa muito dinheiro. País sério é assim mesmo: quando corta, é coisa séria. Não é porque a economia passa por um bom momento que vai se deixar de cortar. Uma boa lição para o governo brasileiro aprender.
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