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Evasão escolar no Japão preocupa autoridades

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Boa parte dos dekasseguis tem se esquecido de que investir em ensino é muito mais importante que juntar dinheiro para comprar um imóvel ou montar um negócio. Teoricamente, a maioria sabe que é a educação, e não os bens materiais, que vai garantir um futuro melhor para seus filhos. Teoricamente. Na prática, as estatísticas mostram que a realidade chega a ser vergonhosa.O Japão tem milhares de crianças brasileiras em idade escolar fora da escola, e não sabe o que fazer com elas. A questão não são estes meninos e meninas, que sofrem com a dificuldade de adaptação a uma nova cultura e muitas vezes às escolas japonesas. “O problema da educação dos brasileiros no Japão é mais um problema dos pais do que das crianças”, afirmou o Secretário de Educação de Toyohashi, Masatoshi Kato, ao final de sua visita a Londrina. Kato veio conhecer o Paraná no fim do mês passado acompanhado por uma comitiva de autoridades do município, composta pelo diretor da Secretaria da Educação Masayasu Yamanishi, pelo secretário de planejamento Yasuji Ishihara, pelo diretor de Relações Internacionais Shinji Sato e pelos brasileiros Alcides Tanaka e Marcos Nishigori, respectivamente presidente e diretor da Associação Brasileira de Toyohashi e Região (ABT).Um dos objetivos principais da vinda ao Brasil foi conhecer os problemas vividos por ex-dekasseguis e seus filhos, principalmente relativos à educação e ao convívio com os japoneses, para poder tomar medidas de modo a reduzir e prevenir essas questões. Para tanto, o grupo visitou escolas e conversou com pais e filhos que já viveram no Japão, passando por Paranavaí, Maringá e Londrina. A iniciativa partiu da própria prefeitura da cidade japonesa, preocupada com o alto índice de evasão escolar entre os filhos de brasileiros.Esse tipo de visita já tem se tornado freqüente. No final do ano passado, duas professoras da província de Nagano vieram a Londrina pesquisar a mesma coisa e com a mesma finalidade, e da mesma forma vários outros japoneses foram a São Paulo. Além de um intercâmbio maior de informações entre os dois países, é preciso que os governos trabalhem juntos. O Brasil, porém, só agora começa a despertar para a questão. A recente visita do ministro da Educação, Fernando Haddad, foi um sinal disso.Já o meio acadêmico pouco tem se interessado. Há mais pesquisadores norte-americanos que brasileiros estudando o problema da educação de filhos de dekasseguis no Japão. “Se houver interesse e um projeto sério, nós podemos viabilizar a vinda de pessoas ao Japão para passar alguns dias ou semanas avaliando o problema”, cogitou.Kato lamentou que as escolas japonesas estejam sendo encaradas como apenas um lugar para se deixar as crianças enquanto os pais trabalham. “Os nipo-brasileiros tiveram pais e avós que tiravam comida do próprio prato para investir na educação dos filhos, na esperança de que tivessem um futuro melhor. E agora, o que os dekasseguis estão fazendo é justamente o contrário. Não estão pensando no futuro de suas crianças, e elas estão sofrendo muito com isso”, exaltou-se.A falta de integração dos brasileiros à sociedade também é avaliada pelo secretário como um obstáculo a se transpor. “Os brasileiros não precisam viver isolados. Todos eles também são cidadãos de Toyohashi”, declarou Kato. De acordo com o secretário de educação, há 12 mil brasileiros morando na cidade. Pais procuram escola japonesa por economiaNa conversa que tiveram com brasileiros que moraram no Japão, os membros da comitiva puderam sentir que ainda falta empenho da maioria dos pais em procurar a escola mais adequada ao seu filho. Ao invés de levar em conta fatores como a idade, o tempo que pretendem ficar no Japão, o grau de conhecimento da língua japonesa e de adaptação à nova cultura e a própria personalidade da criança, os dekasseguis têm priorizado o fator dinheiro.“A escola brasileira no Japão é muito cara e muitas vezes deixa a desejar em relação à estrutura e qualidade de ensino. Por isso, as crianças foram para uma escola japonesa”, explicou uma mãe que morou no país durante mais de dez anos.As justificativas de que estudar na instituição nipônica vai fazer com que o aluno aprenda a falar japonês e que é possível recuperar depois o ensino em português são hipóteses que na maioria das vezes não se confirmam. Por mais que se fale português em casa, a criança que passa boa parte da vida escolar no Japão acaba dominando mais a língua do país onde ficou por mais tempo, e precisa passar a cada mudança por um novo processo de adaptação. Já a que está habituada ao sistema de ensino brasileiro, no outro lado do mundo costuma apresentar grande dificuldade para se adaptar por não falar japonês. Isso leva a um baixo rendimento escolar, que pode resultar em dificuldade em fazer amigos e até discriminação entre os colegas. O resultado são filhos revoltados, que pegam aversão à escola e que acabam abandonando os estudos. Em ambos os casos, geralmente o estudante não se sente seguro em relação a nenhum dos dois idiomas.“São os pais que têm que definir. É preciso sair do Brasil com uma perspectiva e um planejamento que inclui as crianças”, concluiu uma mãe de dois filhos que estudaram vários anos em escolas japonesas. Ela conta que sua filha adolescente não queria voltar para cá, chegou com depressão e tem precisado de aulas de reforço.Outra mãe, que pretende ir para o Japão em breve, não mudou sua opção por colocar os filhos na escola japonesa, mesmo pretendendo passar pelo menos cinco anos no país. “Quero colocá-los na escola japonesa pelo alto custo das instituições brasileiras. Agora se eles vão se adaptar ou não é outra história.”Associação é elo entre prefeitura e brasileirosA Associação Brasileira de Toyohashi e Região (ABT) é mais um exemplo do empenho da cidade japonesa em integrar os dekasseguis à sociedade. De acordo com Alcides Tanaka, a iniciativa partiu do próprio prefeito, que pediu que se criasse uma entidade representativa dos brasileiros para intermediar a relação entre estes e a prefeitura, repassando informações oficiais de um lado e requisições dos brasileiros de outro.Criada há dois anos, a entidade conta hoje com mais de 200 membros ativos, entre pessoas físicas e jurídicas, e ainda promove atividades como cursos de futebol, taikô, ikebana e culinária. A associação conta ainda com voluntários japoneses, que contribuem para que os brasileiros se adaptem melhor à sociedade nipônica. “Estamos obtendo resultados muito positivos em relação a isso”, avalia Tanaka. Ele conta que, no começo, muitos síndicos de danti (conjuntos de prédios residenciais onde muitos brasileiros vão morar devido ao baixo custo) pediam para a ABT intermediar as relações, já que nenhuma das partes se entendia. A relação ainda é um pouco problemática, mas a entidade já conseguiu resolver diversas questões.De acordo com o presidente da associação, a língua japonesa ainda é uma grande barreira, e os brasileiros acabam acomodando-se em grupos de compatriotas com pouco ou quase nenhum contato com os japoneses.Para setembro, a ABT está organizando a segunda edição do Dia do Brasil, evento que no ano passado atraiu milhares de japoneses e brasileiros com atrações como apresentações de escolas, shows de bandas brasileiras, capoeira, comidas típicas e taikô, além de serviços de simulação de terremotos e atendimento do consulado itinerante. Um dos destaques será a presença da emissora estatal NHK, que vai montar um estúdio de gravação para que as crianças possam simular programas televisivos.