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Washi, a beleza e a delicadeza do papel artesanal japonês

 
Fabricado manualmente desde que fora inventado, há mais de mil anos, o washi encanta por sua suavidade, qualidade e durabilidade

Kamori: há 12 anos dando aulas e confeccionando o papel no Brasil (veja o passo a passo do processo abaixo)

(Texto: Juliana Tieko Octavini/NB | Fotos: Divulgação e Ricardo Hara/RH Fotografias)

Desde que fora criado, há mais de mil anos, o papel artesanal japonês – washi, como é conhecido – enche os olhos por sua beleza.
Diferente do papel ocidental, o papel japonês agrada por sua maciez, qualidade e durabilidade.
Registros existentes apontam que o papel propriamente dito teria surgido na China com T’sai Lun, no ano de 105 d.C., e fora introduzido no Japão 500 anos depois de sua invenção, graças à religião budista, que começava a se consolidar no país.
Foi durante o final do século VI e o início do século VII (592-628), época da Dinastia Suiko, que o washi começava a ser feito no Japão, mas sua produção só foi intensificada anos mais tarde, com a impressão de sutras e documentos.
Com o tempo, os japoneses foram descobrindo outras utilizades para este papel. Hoje, ele é usado para a fabricação de inúmeros objetos, como leques, biombos, luminárias, flores, caixas para presentes, cartões, encadernação de livros, fruteiras e até mesmo para a confecção de jóias e roupas.


Luminárias japonesas

No Japão, onde é muito popular, artistas e artesãos também o utilizam para fazer gravuras, aquarelas, origami, oshiê e pinturas como shodô e sumiê, graças a sua textura característica, que proporciona resultados surpreendentes.
Lá, cada província acabou aperfeiçoando uma técnica de produção e criando papéis específicos, conhecidos pelo nome de sua região de origem.
Desde que o washi começou a ser fabricado, ele é feito artesanalmente, uma cultura preservada cuidadosamente pelos nipônicos. Ele é feito de um vegetal típico japonês conhecido como kozo. Embora existam outros vegetais japoneses – como o mitsumata e o gampi – com os quais é possível produzir o washi, o kozo, no entanto, é o mais apropriado para a fabricação desse papel. Seu ciclo de vida é de apenas um ano. Chegada a estação do outono, período em que os ramos são cortados, o kozo desfolha-se. No lugar de cada corte, surge um novo broto durante a primavera, e seus galhos multiplicam-se todas as vezes que são podados.

O washi chega ao Brasil
Foi o imigrante japonês Koichi Matsuda que trouxe a primeira muda de kozo para o Brasil, no final da década de 70, graças ao sonho do governador da província de Koichi, Mizobuchi, de montar uma indústria de washi no Brasil e desenvolvê-la com a comunidade japonesa.
Durante uma visita à cidade de Cotia, em São Paulo, Mizobuchi conheceu Matsuda e pediu a ele que desse início ao cultivo de kozo e de mitsumata. Depois de alguns testes, Koichi percebeu que a produção de mitsumata não havia obtido sucesso, enquanto o kozo havia se adaptado perfeitamente ao clima tropical brasileiro.
O sonho do governador japonês de abrir uma fábrica de washi, no entanto, não foi para frente, pois não haviam pessoas interessadas em tocar o projeto. Matsuda, então, resolveu escrever um livro Washi – O Papel Artesanal Japonês –única publicação sobre o washi no País –, que foi lançado em 94 pela Aliança Cultural Brasil-Japão.
Nessa época, ele pediu para que o artista plástico Katsutoshi Mori – mais conhecido como Kamori – lhe auxiliasse, já que há três anos ele fazia pesquisas sobre o washi. Desde então, Kamori mergulhou no mundo dos papéis e, há 12 anos, dá aulas sobre a fabricação do papel, com o objetivo de difundir a cultura milenar japonesa.


Cartões diversos

Sua única lamentação, no entanto, é que os nikkeis não se interessam pela sua própria cultura. “A cultura oriental está se transferindo para as mãos dos ocidentais. Os orientais, seja chinês, seja coreano ou japonês, não se interessam pela cultura. Eles são bons profissionais mas não têm abrangência”, afirma. “Quando estava pesquisando sobre washi, perguntei para algumas pessoas se elas conheciam o papel, mas ninguém conhecia”, lembra Kamori.
Durante suas aulas, Kamori ensina os alunos não apenas a fazer o papel artesanal por meio do kozo, mas a utilizar também outros vegetais, como o bagaço da cana-de-açúcar e a bananeira.

Qualidade do papel
Segundo o especialista, o papel artesanal japonês feito no Brasil não perde em termos de qualidade para o papel produzido no Japão. “A qualidade desse papel é excepcional. Ele tem fibras longas, é alcalino, resistente, transparente e tem longevidade. Tem todas as qualidades que nenhum vegetal do planeta alcançou. Não existe nenhum outro vegetal que supere o kozo”, garante Kamori.
Os poucos washis existentes no País ainda são provenientes do Japão. A World Paper, sediada em São Paulo, é a única no Brasil a importar o papel, cujos destinos são, além dos consumidores comuns, empresas que os utilizam para a confecção de objetos e alguns mosteiros, que o usam para a fabricação de sutras.
A variedade de papéis artesanais que os japoneses fabricam é tanta, que é possível encontrar inúmeras estampas, uma mais impressionante do que a outra.
Com técnicas especiais, eles criaram, inclusive, washi com marca d’água branca (shirosukashi) e marca d’água negra (kurosukashi), coloridos (shikishi), além de papéis com diferente absorção de tintas.

 
Produção do washi, por Kamori
1. Primeiro, o vegetal é cozido a vapor, até adquirir a aparência de um algodão molhado.
2. Em seguida, ele é jogado num tanque com água, onde é dissolvido. Na solução, é jogada uma mucilagem vegetal, que dará firmeza à folha. Um bastidor é jogado na solução e retira, por meio de uma tela, as fibras do vegetal.

3. As fibras do vegetal são levadas para suportes de madeira.
4. Depois, o suporte é levado para uma prensa, que irá retirar toda a água ainda contida nas fibras.

5. Em seguida, as fibras são colocadas entre filtros de papel e levadas para a prensa novamente.
6. Com uma pinça, as fibras são retiradas do filtro e está pronto o washi.