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Japão do futuro nos dias de hoje

Divulgação
O cinema japonês sempre chega ao Brasil fragmentado. Um ou outro filme aporta em terras tupiniquins em circuito comercial, sendo que, na maioria das vezes, as películas nipônicas são exibidas apenas em poucas salas de São Paulo e Rio de Janeiro.Até mesmo a designação “cinema japonês” como um gênero é equivocada. Impossível colocar em uma só gaveta toda a produção do terceiro maior mercado de cinema do mundo, que só perde lugar para a Índia e os Estados Unidos.A mostra Japão Pop - O Novo Cinema Japonês, que acontece em São Paulo do dia 28 de junho ao 16 de julho, não mostra nenhum movimento ou tendência em específico da produção cinematográfica japonesa, mas serve de parâmetro pontual para se ter uma idéia do que se passa nas cabeças dos cineastas da terra do sol nascente. Filmes densos, irônicos, debochados, críticos ou com senso formal apurado. Todas essas características, não necessariamente simultâneas, fazem parte da mostra.No geral, o que pode se ver - e os filmes japoneses sempre souberam mostrar muito bem - é o ser humano em sua forma mais primitiva, ignorada sua profissão ou classe social. São abordadas também as relações humanas, principalmente a mais complexa delas, a relação com a própria solidão ou com a incerteza do amanhã em um país em que o futuro já é parte do hoje.Ao contrário do cinema brasileiro, em que a falência do Estado leva a uma certa anarquia que resulta em desamparo, o cinema japonês se centra na falência da sociedade no que tange às relações sociais. Não é a falta de dinheiro ou a ineficiência dos serviços que desamparam o cidadão japonês, mas sim uma carência de realização pessoal, de afeto ou de compreensão em um meio baseado no padrão e na estandardização. Em um país sem escassez de recursos tecnológicos, é a falta ou a deficiência de comunicação a lei vigente.Seja por uma saída mais cômica ou por uma mais densa, a mostra ilustra um pequeno dossiê sobre a sociedade japonesa, principalmente em dois aspectos que se ressaltam no arquipélago.O primeiro seria a situação atual da mulher japonesa, que sofre uma crise entre o ato de cumprir o papel tradicional feminino e a masculinização, representada pelas carreiras de sucesso e de sua independência.O outro aspecto é a situação do jovem, que lida com que o que há de mais novo no tecnológico mas enfrenta uma repressão no que há de novo na sociedade. Também a falta de esperança em um futuro decente e feliz, vista a falência das relações humanas no país.Vale a pena conferir um país conhecido por suas tradições, mas desconhecido pela complexidade de suas relações. Um país de tecnologias que não sabe se comunicar.