Não é exagero dizer que a TV aberta brasileira mudará totalmente quando estiver no ar o sinal digital. Além de transmitir programas em alta definição – com uma qualidade superior à do DVD – e formato widescreen, similar ao das telas de cinema, as emissoras passarão a oferecer conteúdos interativos. Também poderão exibir um maior número de atrações no mesmo horário. O conteúdo dos canais vai mudar e o interior dos aparelhos de TV, também.Em dez anos, quando a transição para o novo modelo estiver completada, a telinha que você vê hoje na sua sala parecerá uma peça de museu. E isso não vale apenas para os tradicionais aparelhos de tubo. Mesmo os modernos modelos com telas de plasma e cristal líquido (LCD) vão ficar desatualizados. Vá com calma, não precisa se desfazer de nada ainda. Num primeiro momento, sua TV poderá ser acoplada a um conversor. Depois, você poderá decidir se valerá a pena trocá-la por outra.O sinal digital deve começar a ser transmitido até o início de 2008, nas capitais e no Distrito Federal. Ao que tudo indica, o carro-chefe da estréia do sistema no Brasil será a alta definição (HDTV). Para aproveitar esse tipo de transmissão, que tem 1.080 linhas de resolução e formato widescreen (16:9), só mesmo com uma TV ultramoderna. As emissoras também vão poder optar por exibir seus programas com definição standard (SDTV), de 480 linhas, uma qualidade bastante semelhante à de um DVD.Nos dois casos, o som poderá ser surround 5.1 e envolver o espectador que tiver um home theater. “A imagem não terá chuvisco, ruído ou fantasmas”, destaca o professor Gunnar Bedicks Jr., da Universidade Mackenzie, um dos pesquisadores envolvidos na criação do sistema de TV digital brasileiro. Já o sinal analógico, disponível hoje no País, está sujeito a uma série de interferências.Enquanto algumas emissoras vão apostar em HDTV, outras poderão transmitir, ao mesmo tempo, quatro programas diferentes em SDTV. “Acho que o modelo vai ser flexível”, prevê o professor Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), também envolvido nas pesquisas do sistema digital. A multiprogramação será possível porque a SDTV ocupa menos “espaço” no sinal do que a HDTV. Isso permitirá escolher, por exemplo, entre um telejornal, um programa de auditório, um filme ou um documentário sem mudar de emissora.OPÇÕES À MÃOA interatividade ficará para uma segunda etapa. Com o controle remoto, será possível participar de votações e enquetes ao vivo, consultar a programação ou até mesmo descobrir o posto de vacinação mais próximo da sua casa. Por conta disso, em vez de ficar sentado no sofá apenas recebendo as informações que vêm da tela, cada telespectador passará a ter um papel mais atuante.O conteúdo interativo chegará pelo ar, “empacotado” com o áudio e o vídeo. Os terminais de acesso – aparelhos que fazem a conversão – ou as TVs com tecnologia digital incorporada saberão interpretar as informações e mostrá-las na tela. Para que os comandos teclados no controle remoto voltem à emissora, o governo terá de definir um “canal de retorno”. Em vários países onde a TV digital já existe, a opção mais comum é conectar os equipamentos a uma linha de telefone fixo e transmitir os dados por lá.Dentro do sinal digital também haverá espaço para uma transmissão de qualidade mais baixa, destinada à exibição em telefones celulares e em outros aparelhos portáteis de tela pequena, como computadores de mão. Você poderá ir de um ponto a outro da cidade sem perder o seu programa favorito e não precisará pagar nada por isso. Essa será uma das características aproveitada do padrão japonês.Por trás de muitas outras, porém, estarão os estudos feitos no País, que envolveram 79 instituições e cerca de 1.300 pesquisadores. Isso explica por que o modelo tem sido chamado de nipo-brasileiro. “Como raras vezes na história do Brasil, teremos a oportunidade de incluir nossas inovações”, destaca o professor Marcelo Zuffo, coordenador do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “Não vamos depender de fora.”
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